Sábado, 19 de Novembro de 2005

Despida

AndreBrito6.JPG 

Depois de sorrir ao espelho para mim própria, inocentemente mergulho neste piano. Está a cantar-me a alma. Não estou triste mas deixo cair uma lágrima, maravilhada com a melancolia da vida e por ter os músculos finalmente descontraídos.
É tão bom…o mundo não parou mas já não há barulho. Somente existo eu, e este piano…arrepio-me tanto que quase tremo.

Solto o cabelo que me cai pelas costas e tiro a maior parte da roupa.


Calmamente, danço ao som deste gemido, tão frágil. Balanço os braços e movo o corpo pelo quarto, tal louca feliz por nada ter sentido. Embalo o ar, e deixo-me ser, sem ter de pensar.
Sorrio e estou a chorar. Sorrio por chorar…porque sinto mágoa e estou alegre. Choro por sorrir enquanto me afundo em notas desenhadas no ar, de formas sublimes e frias.

Choro por tudo. Choro porque já chorei, porque já ri, porque dancei, porque por vezes permaneço imóvel durante horas, porque sou de gelo ou ardo, porque sou frágil e forte. Choro porque sinto saudade, porque cresci…porque a confusão reina…choro por mim, sem pena. Um sentimento estranho de existência. “Estou aqui”, penso. E não entendo nada, mas não faz mal.
Sorrio por tudo o que chorei, por tudo o que ri. Por tudo o que senti…paixão, ódio, dor, alegria…tão comum…sorrio por ter conseguido não sentir absolutamente nada em certos momentos de vácuo. Sorrio porque me apetece.

Sinto-me calma, livre, plena, do tamanho do mundo. Podia correr para sempre se esta melodia fosse cantada lá fora pelo vento, e tudo o que era bonito podia também ser feio, ou bonito…ou o que é feio podia ser belo, ou mesmo feio…não importa. Não importa mesmo. E não faz mal.
Porque eu estou a sorrir e a chorar…e estou a delirar com a sensação.
O coração não pára de saltitar, como se também ele sorrisse e chorasse…


Encantada. Vou correr e dançar neste quarto que é o meu mundo, até não poder mais, e ter de parar. E depois, vou aqui continuar a dançar e a sorrir enquanto choro, porque estou feliz de nada fazer sentido e eu não me importar.


 


 



(Imagem de André Brito)


publicado por Rute às 01:26
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De ferrus a 29 de Novembro de 2005 às 02:43
A dualidade, a alegria e a mágoa, o sorrir e o choro e um denominador comum....a libertação pela música. Quem sou eu para comentar esta magia: a tua magia :-) Tu enches-me os sentidos!!!!! Esquece o comentário e aceita somente os enormes beijos que te deixo!!! Bjitos, Vampíria


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