(Dei mais uma passa no cigarro. Esperei por ela. Entrou deslumbrante e arrasou-me mais uma vez
tal como sempre
devastou-me com aquele sorriso encantador que me deixa atordoada. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Fiquei com as mãos a tremer. O coração batia tanto que quase me rasgava a pele, abrindo-me o peito para o mundo, exorcizando tudo o que me atormentava.
Comprimi os músculos
não queria permitir que os lábios se abrissem, que os olhos me lavassem a face e levassem a dor. O segredo corroía-me por inteiro, mas tinha de me lembrar por que o era afinal.)
Que reconfortante tomar as rédeas do tempo novamente. Usar as horas para o que se quer queimá-las, simplesmente olhar o relógio no bater incessante dos segundos. Sempre me fascinou este rodopio que dita a nossa rotina e o nosso próprio tempo. Cada tic e cada tac, omnipotentes no seu tilintar pequenino, corroendo as nossas células cada vez mais velhas e tristes.
Tic, tac, tic, tac
canta-me o relógio, e eu imóvel a ver os ponteiros voar.
Que ousadia seria tentar correr mais depressa do que este instrumento lapidante de ar inocente.
Posso simplesmente tentar irritá-lo com risos ou movimentos, direcções, idas e voltas, melodias, lugares
mas duvido que adiante alguma coisa
ele não pára nunca. Parece que o regedor do envelhecimento guardou para si mesmo o segredo de não envelhecer.
Que apodreça jovem então.
Não quero saber.
Acordei sonolenta, bem cedo, quando tinha planeado dormir. A confusão batia bem forte com os pés no chão, não me deixando repousar
tudo se repetia como se de um eco se tratasse
Talvez devesse ficar alegre
afinal tive o recibo das contas que fiz, mal ou bem. Já está tudo claro. Mas eu não queria assim
maldito que andas a par com relógio. Só me atormentas.
Apetece-me um dia negro, que anuncie chuva. Tinha de estar um dia solarengo de Primavera para me contrariar o desejo.
Então decido viajar à minha maneira, como é hábito.
Mesmo sem fechar os olhos já consigo sentir a areia fria a acomodar-se ao meu corpo, cuidadoso, que se deitou no abismo anunciado de forma a que só os pés se fossem molhando conforme a ondulação
Sinto-me gelada.
E estou.
A minha pele está ainda mais branca
espreito por mim para ver se ainda me consigo mover ou se já me abandonei.
Se me encontrassem aqui talvez me dissessem morta
ou somente louca.
Desabafos pincelados de ironia
escrever para não dizer
escrever o que não se consegue dizer
na pele
no papel
na areia
ou no vento
seja onde for, os gritos não se fazem ouvir e já está tudo cansado de não entender.
Recolhemos assim ao nosso pequeno casulo
enrolamo-nos e conformamo-nos de não ter encontrado resposta
a busca apenas no serviu para apertar o nó da falta de esperança e o espremer de mais umas horas.
Agora deve estar o relógio a rir descontroladamente do meu embaraço com o tempo que me deu usei-o com tudo o que não era necessário e está quase esgotado.
Pois que esteja
é da maneira que não tenho mais de me submeter aos pequenos, miseráveis, caprichosos rasgos de tempo que nos oferece, como se nos desse muito.
(Imagem de André Brito)
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