Domingo, 10 de Abril de 2005

Recordações num pedaço de papel

9b.jpg





Encontrei algumas palavras perdidas em folhas amarrotadas pelo tempoÂ…
Maldita sobriedade do momento que aterras e me deixas só a flutuar com sensações que não controlo. Havias de lhe tomar o gosto salgado, perceber o buraco retalhado de ódio, frustração, dor e azedume que provoca estar a par de mim, sem mais poder fugir ao que sinto.
Parou a alma em momentos que queria esquecer. Todos juntos, em uníssono, gritam-me o que não queria lembrar.
Frustração, devia ser o meu apelido. Não consigo lidar com ela e era uma forma de me habituar. Frustração de apelido, sim…seria coerente. Como detesto, odeio ser rejeitada. Não suporto. Causa-me náuseas, lágrimas, raiva, tudo. Rasgo as palavras com a voz e os dedos ansiosos.
Nadar para ti….se ao menos soubesse quem tu eras. Procuro-te, paixão. Procuro-te, sedução. Procuro-te, loucura. Procuro-te, sem saber onde.
E sem conhecer o teu rosto, faço amor contigo nos meus sonhos. Sim, porque nos meus sonhos tu queres-me como eu te quero. Não te percebo na realidade…tanto me assedias como repugnas. Tanto, que já não sei o que pretendes de mim…
Quero sentir o corpo vibrar ao teu toque inesperado, e que traz a sensação de timidez e sensualidade ás costas. Seguir-se-iam…espera!!!!!!! O inesperado!!! Algo teu!! Que calor me fez trespassar, que gostas microscópicas de suor flúem em mim, e um vibrar que arde, que me aguça a curiosidade e o nervoso. Não sei porquê e como me deixas assim…costumo ser tão calma e fria. E toda a curiosidade desenha uma perplexidade no meu rosto quando te leio “sem ressentimento”. Querias levar-me lá. Gostava de te responder mas não percebo a que te referes e não me apetece fazer figura de parva de novo…lá terei de arriscar. Agora aguardo a tua resposta, provavelmente bem brusca e arrogante, como é costume quando te sentes afastado.
Estou aliviada por me ter controlado à tarde, e não te ter respondido como merecias…parece-me que ás vezes és mais imaturo do que eu…deixas a raiva fluir a um ritmo espantosa e vertiginosamente assustador. É característica tua. E minha também...menos contigo, e com ele, que amo loucamente e me faz a luxúria brotar da pele como o suor da pele de quem está em esforço terrível.
Agora viverei perto de ti…e de ti. Será que algum dia me visitas? Será que algum dia uma amizade turbulenta se deixa levar pela atracção imensurável dos corpos? Nem sei se mereces que esteja aqui a divagar sobre ti. (descobri agora, mais tarde que não).
Tal como eu julgava, não me respondes. Se disseres alguma coisa, será mais tarde, com insinuações a uma pseudo-imaturidade que julgas que carrego com a idade…não me conheces assim tão bem…És forte, e isso atrai-me mais do que o teu corpo. A tua idade e a típica cristalização da sabedoria que tanto me irritam em certos momentos, também me atraem noutros.
Estou dividida num mundo de sonho e na minha apática realidade…apetece-me cantar muito, muito, muito alto num sitio vasto, grande, repleto de verde e de animais, onde nenhum racional (ou humano) me ouça, onde eu me abstraia de mim e partilhe a minha voz com o vento, o sol, e a chuva, e o calor, e que me prolongue as extremidades até ao fim.
Questiono a minha coragem em certas situações e apetece-me colocá-la à prova. Também me apetece que te sintas fascinado por mim e cries uma admiração inabalável pelo meu frágil e duro ser. E Tu também. Não julgues que algum dia me esqueço de ti, meu amor verdadeiro.
Quero mais um cigarro ao som do meu silêncio e vozes televisivas de um programa interessante, que se fazem ouvir de outra divisão.
Apetece-me gracejar com a desculpa esfarrapada que deste ao teu erro ortográfico que fiz questão de emendar, em que logo te enterraste, chamando-me de “castradora” e mais que não me lembro. Podia rir-me tanto….mas estou sem vontade de torcer os lábios sozinha.
Sonhos de uma “pré-adulta” ou de arte? Tudo me repuxa à mesma raiz aprumada e não consigo para de pensar em ti, nas tuas palavras (meigas e não tanto), nas tuas reacções, na tua amizade…enfim…nem sei se me apetece, mas tenho a sensação que vamos ter muitas mais discussões, e até sorrio a pensar nisso. Temos ambos personalidades muito marcadas.
Vagueio pelo pensamento a imaginar acontecimentos que fariam parte da nossa história e do nosso passado.
Chovem molhos de palavras ao som de promessas televisivas, que caem no esquecimento como a água se evapora aos cem graus.

RecordarÂ…enfim.














(Imagem de Anita Andrzejewska www.anitaandrzejewska.netlin.pl)




publicado por Rute às 18:26
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8 comentários:
De ferrus a 12 de Abril de 2005 às 16:47
Deste um pontapé na inércia e fizeste, fosse o que fosse fizeste. Isso é muito bom!!!A nostalgia é sempre triste, mesmo pelas coisas alegres. Como sempre li e reli e como sempre adorei! Bjitos, doce Vampiria!!!!


De ferrus a 12 de Abril de 2005 às 16:47
Deste um pontapé na inércia e fizeste, fosse o que fosse fizeste. Isso é muito bom!!!A nostalgia é sempre triste, mesmo pelas coisas alegres. Como sempre li e reli e como sempre adorei! Bjitos, doce Vampiria!!!!


De C. a 12 de Abril de 2005 às 15:26
Muito intensa, como sempre. Essa água que ferve e se evapora... enquanto borbulha no pensamento leva a que se vagueie entre o antes, o agora e o depois. Nunca sabemos como vai ser, por vezes apenas sentimos que é assim que tem que ser. E há que ir em frente para não ficarmos para sempre com a sensação de que as coisas poderiam ter sido diferentes. Pelo menos tenta-se... Beijos :)


De Infiel a 12 de Abril de 2005 às 09:59
Deliciosa a tua forma de escrita... simplesmente deliciosa... beijo da Infiel.


De Vampiria a 11 de Abril de 2005 às 20:36
P/Plantacarnivora: é um quasi-relato. Aliás, quase todos, ou mesmo todos os textos são. Porém, como o título diz, são recordações que encontrei num pedaço de papel, e apeteceu-me transcrever. Eu também sigo o lema de mais vale arrepender-me do que viver a pensar no que poderia ter sido.:)
Bjs grandes* *


De Vampiria a 11 de Abril de 2005 às 20:33
P/Sónia: uma citação muito bonita e muito adequada. Gostei* *bjs


De Plantacarnivora a 11 de Abril de 2005 às 19:03
Bem eu acho pessoalmente que escreves muito bem, com destreza, fluentemente e sábiamente, porem eu acredito piamente que este post aconteceu...ou seja que é um relato. E...linda: c´est la vie...já vi este filme e é resignar ou partir para outra, ou seja dá..dá...não dá...não dá e mais nada, a vida é muito curta para empatar..porem há particularidades, que só nós próprias conseguimos e sabemos ...portanto...como eu costumo dizer: Arrependermo-nos de termos feito; nunca de não ter feito. Beijócasssssssssssss e que essa corda, não entrelace tanto.....


De Sónia a 11 de Abril de 2005 às 13:33
"...o lilás pode ser terno e selvático como a boca pode beijar ou morder."

Beijinho grande
www.lbutterfly.blogs.sapo.pt



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