
Pego nas farripas que restam das poucas memórias que construí.
Olho-me. Penso. E soluço em silêncio.
Tenho medo que me ouçam e perguntem o porquê de tanta lágrima derramada no meu colo. Não quero dizer
nem sei se sei porquê.
Não talhamos a vida como queremos
construímos um passado pouco belo, um presente inseguro e um futuro sem esperanças. Contrariados, mas fazemo-lo.
Limpo as lágrimas da cara com a mão
são tantas que escorrem, e fazem trilho pela palma da mão, pelo braço fora
até que caem violentamente no chão.
Sinto fitas de seda a crescerem a partir dos dedos até ao infinito
.extremidades que nunca se tocam, mas dançam sempre ao sabor da minha pouca felicidade. Queria espreitar lá para trás e sentir que valeu a pena
só isso.
Os minutos passam
os dias passam
passam também os anos
e nada. A voz tem medo de ficar insegura e mergulhar finalmente no abismo, porque aí sim, seria o fim. E parece que o tenho anunciado quando penso nisso. Como só me apercebi agora?!! Até as pupilas cresceram com tamanha alucinação
há quanto tempo já mergulhei
simplesmente ainda não embati no fundo. O último sentir com a pancada final.
Sangro dos pulsos até saborear o suficiente e ficar como sempre: insatisfeita. Que pulsar desmedido
até parece que existes.
Sonhei
de novo
já não sei há quanto tempo tenho pesadelos constantes
durmo sem dormir para poder descansar do medo, com medo. E que ousadia a tua de me pores assim a voar! Era um pára-quedas pequenino, atado a cintura, e nós tínhamos de ir de braços abertos, como se fossemos mesmo nós que íamos a voar
até sentia o vento na cara
e juro que lhe sinto o cheiro já mesmo acordada. Voei, passeei, espreitei as curiosidades que me disseste, mas não consegui aterrar junto de ti. E tremi de medo. Perdi-me no meio do oceano que afinal não era um rio. Queria parar, para ao menos me poder afogar, e não conseguia
continuava numa calma ridícula com se de um passeio se tratasse. Esperneava, berrava, chorava e nada
até que desisti e me rendi
depois acordei.
Levantei-me
arrastei os pés, enfiados nuns chinelos demasiado grandes, que me fazem tropeçar a todo o momento. Lavei-me. Vesti-me. Olhei-me no espelho e fingi que estava tudo bem.
(Imagem de www.psychoartcom.ar)