Quarta-feira, 25 de Maio de 2005

Acordar de Novo

emptyness.jpg


Pego nas farripas que restam das poucas memórias que construí.
Olho-me. Penso. E soluço em silêncio.
Tenho medo que me ouçam e perguntem o porquê de tanta lágrima derramada no meu colo. Não quero dizer…nem sei se sei porquê.
Não talhamos a vida como queremos…construímos um passado pouco belo, um presente inseguro e um futuro sem esperanças. Contrariados, mas fazemo-lo.
Limpo as lágrimas da cara com a mão…são tantas que escorrem, e fazem trilho pela palma da mão, pelo braço fora…até que caem violentamente no chão.
Sinto fitas de seda a crescerem a partir dos dedos até ao infinito….extremidades que nunca se tocam, mas dançam sempre ao sabor da minha pouca felicidade. Queria espreitar lá para trás e sentir que valeu a pena…só isso.
Os minutos passam…os dias passam…passam também os anos…e nada. A voz tem medo de ficar insegura e mergulhar finalmente no abismo, porque aí sim, seria o fim. E parece que o tenho anunciado quando penso nisso. Como só me apercebi agora?!! Até as pupilas cresceram com tamanha alucinação…há quanto tempo já mergulhei…simplesmente ainda não embati no fundo. O último sentir com a pancada final.
Sangro dos pulsos até saborear o suficiente e ficar como sempre: insatisfeita. Que pulsar desmedido…até parece que existes.
Sonhei…de novo…já não sei há quanto tempo tenho pesadelos constantes…durmo sem dormir para poder descansar do medo, com medo. E que ousadia a tua de me pores assim a voar! Era um pára-quedas pequenino, atado a cintura, e nós tínhamos de ir de braços abertos, como se fossemos mesmo nós que íamos a voar…até sentia o vento na cara…e juro que lhe sinto o cheiro já mesmo acordada. Voei, passeei, espreitei as curiosidades que me disseste, mas não consegui aterrar junto de ti. E tremi de medo. Perdi-me no meio do oceano que afinal não era um rio. Queria parar, para ao menos me poder afogar, e não conseguia…continuava numa calma ridícula com se de um passeio se tratasse. Esperneava, berrava, chorava e nada…até que desisti e me rendi…depois acordei.
Levantei-me…arrastei os pés, enfiados nuns chinelos demasiado grandes, que me fazem tropeçar a todo o momento. Lavei-me. Vesti-me. Olhei-me no espelho e fingi que estava tudo bem.







(Imagem de www.psychoartcom.ar)

publicado por Rute às 22:52
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37 comentários:
De Perfect Woman a 10 de Junho de 2005 às 23:38
Dizem que o olhar é o espelho da alma...
Eu penso que a escrita também o é... Talvez não tão abrangente como o olhar, a escrita talvez seja mais evasiva mas é porém o espelho daquilo que nos apetece dizer no momento... Quer seja para criticar, divertir, informar, criar polémica, comentar, etc. Felizes daqueles que tem momentos desses...
Parabéns, gostei do teu blog. Jinhos


De Joana a 10 de Junho de 2005 às 19:40
Revi-me em muitas palavras. A imagem tb é genial e vem mesmo a propósito do texto. Excelente. Beijinhos.


De samlateralus a 8 de Junho de 2005 às 18:57
xiii tanto comentário e repetidos e nao sei k...nao sei porque isto faz me sentir ainda mais vazio...bem começei um novo blog(sempre um novo começo) fala sobre amor e fuga e está sedento de sangue quente: samlateralus.blogspot.com li o teu texto e gostei mas pronto é só mais um a dizer isto...


De eu33 a 7 de Junho de 2005 às 19:41
Pois é Vampíria, hoje li e reli estas palavras que já anteriormente comentei, e mais uma vez me senti esmagada pela força das palavras escritas, e pela experiência de vida que as mesmas demonstram. Não tenhas pressa em voltar, mas volta... Obrigada. Fica bem,


De Patrícia a 5 de Junho de 2005 às 22:01
Um grande beijinho e volta rápido =)
*****


De Dora a 4 de Junho de 2005 às 00:30
Ó Menina Vampíria, e para quando um post novo? ;-)
Um beijinho e um bom fim de semana!


De pedro a 3 de Junho de 2005 às 16:03
Não consigo deixar de ler este poema, tá simpelsmente genial.... já a terceira vez que aqui volto só para o ler... demais!!!
beijo pedro


De ferrus a 2 de Junho de 2005 às 19:10
Temos mesmo que fingir, não é?...Quantos sorrisos largamos que são impregnados de dôr e desgosto? Um beijinho sincero, isento de falsidade...é o que te deixo aqui...para ti! E...Upa!!!!!


De ferrus a 2 de Junho de 2005 às 19:10
Temos mesmo que fingir, não é?...Quantos sorrisos largamos que são impregnados de dôr e desgosto? Um beijinho sincero, isento de falsidade...é o que te deixo aqui...para ti! E...Upa!!!!!


De MWoman a 2 de Junho de 2005 às 18:10
Também me deixas sem palavras. E também já tinha lido este teu texto e acontece que não sei que te dizer a não ser que a tua escrita me cativa! Pena ser tão triste! Um beijo.


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