Segunda-feira, 13 de Junho de 2005

Rever

KonradGos.jpg


Acabaram-se as obrigações por uns tempos. Vou poder assim descansar da rotina fatigante e tomar por completo o que mais amo. Até causar dor no pulso. Até me pedirem para me calar.
Também voltam as dúvidas…é necessário clarear as situações…é necessária uma intoxicação de pensamentos típica da solidão que se faz sentir. Preciso embebedar-me da situação. Pensar claramente e atrever-me. Arriscar-me e arriscar-te.
Tenho uma sede louca de ser invadida. Não. Não pelos fantasmas do passado…seres que se vestiam de sedução e me deixavam flutuante em pensamentos e libido não concretizada. Esses abandonei-os e não lhes tenho saudade…enjoaram-me, fazem parte do passado.
Tenho novos fantasmas. É pena serem fantasmas. Vou atingindo a passos pequenos um abismo, que vai acabar por cair para algum dos lados…não entendo porque não usamos todos a clareza de palavras…era tudo mais simples…
Fico assim enterrada até aos joelhos de dúvidas, pensamentos que falam em tom de ponderações, receios que ora se aproximam ora se afastam, em compasso contigo.
Não me apetece mais. Estou cansada.





Ligo-a.
Autómato de desejos escondidos. Olho-me. Obrigo-me a ouvir o silêncio que se faz sentir não o entendendo.
Dispara de dois em dois segundos mas não me movo um milímetro sequer. Quero fotografar bem isto que é nada. Vincar os momentos que fazem parte de mim, aqui, sozinha, ansiosa de ti.
Sinto náuseas.
Contraio-me e impeço-me de.
Levanto o olhar e espreito à minha volta…a imobilidade dos objectos sempre me cativou.
Corre uma brisa gelada, não própria da época, e arrepio-me um pouco.
Apetece-me descrever exaustivamente tudoÂ…
Estico o braço…pego no cigarro…faz-se luz e inspiro o mais profundamente que consigo. A sensualidade do fumo à minha volta desperta a libido e sinto asco.
Estou nervosa, sinto as palpitações a mil. Detesto. Não sei qual é razão.
A solidão demorada faz-me disto. Só comigo não preciso de fingir, e a situação repete-se.
A máquina continua a disparar…Grava a fragilidade, a força, a energia, e todas as sensações contraditórias que passam por mim agora…a minha ambiguidade é notável, não havendo nada que eu possa fazer para a evitar.
Caminho descalça por aí…não sinto tristeza mas sim revolta. O conflito dar-se-á brevemente e colocarei tudo o no sítio certo. É insuportável a miséria dos meus pés descalços neste trilho.
Os lábios já sangram…mordo-os compulsivamente quando estou ansiosa. O sabor a sangue deve ter qualquer efeito mas não estou certa de qual é. Apetece-me parar e não consigo. É viciante.
Volto a abrir os olhos…decido parar a máquina e vestir-me.
Vai dar-se de novo. Sinto-o e tenho medo. Vou encolher-me e imaginar que não existo.



(Imagem de Konrad Gos)


publicado por Rute às 22:38
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13 comentários:
De ferrus a 24 de Junho de 2005 às 00:17
Vampíria...como sempre deixas-me extasiado com o que escreves. Neste caso fico contente pq se fala de renovação, nasceu uma bela crisálida :-) Vamos, as flores esperam-te...voa :-) Beijos enormes


De Joana a 18 de Junho de 2005 às 20:30
Intenso.Cheio de sensações. Beijo.


De Perfect Woman a 17 de Junho de 2005 às 14:43
Então!!! Vamos lá... Quero mais, nina...
Tou esperando...
Jinhos


De Jamour a 17 de Junho de 2005 às 13:38
Um dia perdi todos os meus sentimentos. Chamei pelos anjos, pelas estrelas. Um grito sem fim e vi-me neste texto.Parabéns pelo blog. Beijo grande Vampiria


De frog a 17 de Junho de 2005 às 11:42
ESte teu texto convoca os sentidos! Por certo o eco das tuas palavras far-se-á ouvir dentro de nós... A realidade, por vezes amarga de muitos dias.

Excelente! Um beijo e bom fim de semana


De C. a 16 de Junho de 2005 às 18:37
Descreves a crú uma perfeita hora da verdade. Dói, provoca medo, receio, calafrios, até faz com que se mordam os lábios e se firam os pés... mas uma coisa é evidente em tudo o que escreves: apesar do medo, vais à luta. A isso chama-se coragem. Parabéns por essa perserverança na procura de ti mesma e do que és em ti mesma, Vampíria. Um beijo enorme.


De Perfect Woman a 15 de Junho de 2005 às 20:24
Adoro leitura que me faça pensar, que me faça imaginar e descobrir que quando doi por mim sinto que sou personagem do que leio... adoro o factor "2 sentido" e no que escreves isso acontece.
Beijos


De Patrícia a 15 de Junho de 2005 às 13:54
Texto bonito. Resto de boa semana...Beijo...


De Patrícia a 15 de Junho de 2005 às 13:53
Texto muito sentido. Beijo e resto de boa semana!


De sylpha a 15 de Junho de 2005 às 09:06
Tens uma forma muito própria de te expressares. As tuas palavras não são para serem sorvidas de um trago só...têm que ser saboreadas para se chegar a um entendimento. Aprecio isso!!! Beijo enorme


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