Refugio-me na penumbra de uns estores fechados a esconder um dia cheio de sol. Dou passadas largas numa confusão familiar e apetece-me que seja só isto por momentos. O escuro, a melodia, e eu. Um sitio quente. Preciso de algo mais pequeno e escondo-me debaixo da secretária. Isto é tudo quanto quero sentir. Cravo as unhas nos braços e soluço baixinhoÂ…já sinto o sabor amargo do que sou. Pecados inventados pela minha infantilidade, que sorriu para o que não deviaÂ…da maneira que não deviaÂ…para agora saber o que não devia. Rasgo os tecidos enquanto se preparam para a festa. Nem se lembram de mim aposto. Ficou-me o cheiro da brisa que pensava terÂ…a amargura pesa agora e a desilusão que pensava já não poder encontrar nesta idade. Caminhei vagarosamente para tudo istoÂ…a culpa é minha, nem sei porque me queixo. Alguém com leviandade atou uma corda ao meu peito e puxa-me violentamente contra o chão. Estou massacrada, dorida, e não consigo desfazer o nó. Neste momento, vejo o oceano como nunca o tinha conseguido verÂ…apetece-me fazer parte dele e como por magia, fecho os olhos cansados e consigo. Sei que não há-de vir, sei que não me conseguirei fazer ouvir. Tumultuoso acordar este do dia a seguir. O levantar é penoso e custa acreditar que é mesmo isto. Sem máscaras, sem disfarce, sem mais com que sonhar. Lembro-me de mim, feliz a entender tudo como me fazia bemÂ…ou entendi mal de novo? Que raio!!! Porquê esta incertezaÂ…? Pensei que já tinha secado a mais fácil forma de falarÂ…mas nãoÂ…ainda caem lágrimas. Verdadeira, não me levantoÂ…o luto tem de ser feito e eu fá-lo-ei. Enterrada em cigarros, cinzas, álcool. Os que me deram a natureza sempre sussurraram, e não erravam, que esta era a minha maneira de estar triste e desabafarÂ…não se enganaram, nunca. São a minha melhor companhia, com um sorriso e os braços sempre abertos, para eu não falar como sempre, e poder não chorar à vontade. Os meus olhos brilham para o chão...custa erguê-losÂ…o inchaço provocaria perguntas a que não posso responder. Vão chegar pessoas. Vou ter de me vestir e inventar um sorriso. Afinal está tudo bem e isto não passou de um sonho mauÂ…pode ser que a mão que desenha este sorriso encontre a inspiração num verdadeiro que já esteve esboçado mas foi apagado, ontem. À noite. Uma tela para não esquecer como pode parecer que D. Sebastião vem lá, e não passa de uma neblina mais densa.Â
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