Quinta-feira, 31 de Março de 2005
Estou em pânico.
Apercebi-me. Sim, apercebi-me que não posso evitar. Que isto é real e já não há nada a fazer
Apetece-me chorar e escrever, anestesiar-me. Desconfio que vêm aí tantos problemas
a culpa não é minha
juro que não é.
Queria escrever mil e uma palavras que servissem para exorcizar este sentimento, mas não as encontro mais uma vez.
O pânico e o querer. É tanto de tanta coisa
sinto os lábios secos de medo, e o sexo ansioso por ti. O coração acelera demasiado, e eu gosto tanto quanto me incomoda
Ainda sabes o meu cheiro
eu decorei a humidade dos teus lábios, a suavidade da tua pele, do teu sorriso, as tuas mãos.
Quero-te hoje, amanhã, agora, há cinco minutos atrás, e à frente também. Acho que não estou a ser ordenada nos meus pensamentos
que me perdoem as gramáticas, mas neste momento não consigo
E se desse lado da margem for uma miragem? Não acredito que o fizesses
é muito tempo a fingir
mas quem sou eu para poder adivinhar isso?
Estou num turbilhão enorme de sensações
arrastam-me os sentimentos sem que eu os consiga fazer parar.
Não paro de pensar que devia ir, ficaríamos melhor
não posso, a condição soma-se à solidão, e tenho de por cá ficar
ai como queria aquele salto. Como eu queria aquele salto!!! Como eu queria aquele salto!!! Não te aborreças, em breve saltaremos.
Tudo isto causa-me uma mágoa, uma apatia que os olhos têm vontade de exprimir
a verdade é que a maior parte das vezes, os lábios não o permitem, cortando o momento com um sorriso embebido do que tudo isto significa: tu queres tanto quanto eu. Fico mais calma, feliz, e os olhos, impertinentes mais uma vez, querem gritar essa felicidade através da expressão usada na tristeza e na alegria, de formas tão diferentes por todos.
Não tenhas pressa
os momentos só se esgotam com a morte
eu sei que é mais fácil, a ansiedade aperta, mas ouve-me com atenção, encostada a teu peito,a falar com os teus lábios: temos mais oportunidades que vêm a par com o tempo
eu também quero mais rápido, mas agora não pode ser.
Pareço louca
a falar sozinha. Chamo-te e tu não vens. Tenho-te aqui, tu sabes que sim e gostas. Também me tens aí.
Quem eu digo que não sei, mas sei.
Sinto-me mesmo a enlouquecer
um sorriso nos lábios novamente, o embalar do corpo e a melodia.
Segredo a mim própria, que se enlouquecer agora, vou ser uma louca feliz, porque sonho com o que pode ser, já que acontece.
(Imagem de Anita Andrzejewska www.anitaandrzejewska.netlin.pl)
Segunda-feira, 21 de Março de 2005
São três da manhã. Está tudo calmo, sereno, apenas se ouve uma melodia escolhida e nova para mim, mas à qual me habituei rapidamente.
Doem-me as costas há bastante tempo e tenho os dedos da mão esquerda pisados, parece que vão rebentar
tenho passado tempo demais agarrada à guitarra. Parece que já me conhece a alma, e geme a harmonia que corre dentro de mim
Não me apetece escrever sobre a minha tristeza. Nem sei se estou triste. Estou confusa, com medo. Anseio tanto.
Após um dia como o de ontem, em que me ocorreu que pudesses
nem consigo escrevê-lo
mas eu sei o que é
nem consegui chorar, berrar as vísceras para comigo, para que tudo fosse expelido convenientemente
Adormeci profundamente magoada, abandonada a pensamentos amargos. Quando acordei, não queria abrir os olhos, não me apetecia olhar o mundo com eles, não me apetecia erguer o corpo da cama e voltar a encarar toda a minha realidade
nada está bem. Peguei no telemóvel para saber as horas com que me confrontava comigo própria de novo, após aquele período de férias sonoríferas. Já me tinham tentado contactar e eu nem acordei
em primeiro ecrã as chamadas não atendidas, e lá por trás um envelopezinho...Quando vi de quem era, sentei-me na cama imediatamente, de olhos bem abertos. Era tua e eu não podia acreditar nas palavras que me dirigias.
Fiquei um pouco mais alegre o resto do dia, claro
mas agora, que a energia se sumiu, volto a este posto, corcunda da vida, ansiando mais.
Estou cansada de fugir
já não suporto essa palavra.
A oportunidade aproxima-se a passinhos pequeninos, como se fosse uma linda menina carregando suavemente o sonho de ser bailarina. Engraçada na sua condição, desajeitada quando tenta assemelhar-se ao ideal que construiu na sua mente imaginativa. Traz uma saia enorme, e os pés ainda parecem mais pequenos descalços. Estão sujos, ela não pára um minuto, e tem prazer em caminhar descalça! (Serei eu?) Quando desaparece, é por breves instantes. Rapidamente a menina bailarina de nome oportunidade, espreita por qualquer lado e vem dançar para mim. Leio-lhe no olhar que me vem mostrar qualquer coisa de que tenho sempre medo.
O que se segue agora não sei...sei que não posso esperar outro acordar como o de hoje, mas não consigo parar de pensar como seria bom.
Sei bem o que vou esperar do resto dia. Já houve alguém que se encarregou de decidir isso
como detesto que o façam. Hei-de sair de casa só para não me encontrares
pego no carro e vou vaguear por aí
a música bastante calma e o pensamento em desassossego. Como sempre, e talvez para sempre. Ou então não
fico, sigo o caminho que traçaram, e deixo-te imbecilmente feliz a meus olhos por toda situação.
Pouco importa.
É melhor ir-me deitar
pode ser que adormeça e sonhe contigo.
(Imagem de Anita Andrzejewska. www.anitaandrzejewska.netlin.pl)
Sábado, 5 de Março de 2005
Não consigo encontrar as palavras. Dou voltas e voltas, e não as encontro. Não consigo descrever o que estou a sentir. Um batido de felicidade, medo, ânsia, descontrolo, e sei lá que mais.
Ainda bem que os momentos de amarras se desvanecem e eu me solto
a tua voz faz-me deitar e sossegar com um sorriso imaginário desenhado nos lábios. Era bem mais fácil ter visto tudo isto como mais uma tanga, apenas mais palavras ao barulho
mas não é assim, não me consigo manter indiferente. Quando te pego no pensamento, já não caminho sozinha
esta sensação agrada-me.
A libertina que existe em mim, envolveu-se toda em ti
neste momento, não me apetece sequer pensar noutros corpos, noutros lugares
apenas onde tu estás
que não sei onde é, mas não faz mal.
É bom viajar assim
a forma serena e plena de tu seres, acalma a minha, agitada e nervosa, fria e com dificuldades em demonstrar o que sinto.
Não posso dizer mais
não posso falar
podem descobrir
este vai ser o nosso segredo eterno.
Quando se pensa que já nada disto é possível, que a frigidez nos tomou para sempre, é uma óptima surpresa. Mas também sei que isto é mais um momento em mim
que vivo de momentos, e não se saberá qual é o próximo. Gosto de viver assim. Tu também tens a tua maneira, e aceito-a.
Só me apetece especular sobre os pontos do futuro em que nos cruzaremos
pela primeira vez, sinto saudades.
Assaltam-me agora imagens que não me apetece controlar
apetecem-me os teus lábios a percorrer a minha pele pálida, a tua língua molhada a desenhar suavemente nas minhas pernas
os teus olhos brilhantes, a lerem os meus, que se fecham de vez em quando, em sincronia com o corpo em pequenas contracções involuntárias. Dar-te as mãos com tanta força quanto as quero dentro de mim
sentir o teu beijo, ansioso, molhado, a anunciar o desejo que precisa de ser consumido, naquele momento
mas em tom quase cruel, faço-te esperar mais um bocadinho. Apetece-me prolongar isto
ver-te vibrar
beijar-te mais, olhar-te mais
ter-te mais dentro de mim, para entrares finalmente, e descobrires o que eu te puser à disposição. Há-de ser tudo.
Depois dançarei no teu corpo. Dançarei como uma louca. Rodopiando à tua volta, de braços abertos. Passarei suavemente os lábios nos teus, tentando dar-te a adivinhar o que se segue.
A disposição mudou completamente. Não. Não me apetece fazer amor contigo. Quero ter-te louco, feroz, como dois animais, como se esta fosse a ultima vez que o faríamos.
Sentir.
Sentir.
Sentir.
Sentir.
Sentir-te!!!!!!
A tua pele
o teu suor
o odor
os teus movimentos sensuais, bruscos, violentos, a tua virilidade, o teu desejo de concretizar mais um acto. E outro. E outro. Insaciável.
A contemplação de tamanha vontade, que nunca acaba e que aparenta ser sempre grande demais para estes corpos finitos. Sorriremos os dois ao ver o outro se aproximar, e uma sensação de abundância predominará.
Ainda bem que a felicidade vai espreitando, e é composta por momentos que, apesar de fugazes, nunca desaparecerão em nós.