Domingo, 21 de Agosto de 2005

A caminho

JoannaKinowska.JPG

 


Pelas penumbras das sombras, vagueio corcunda em alento. Contraio os músculos faciais numa tentativa de impedir as lágrimas de desaguarem…pequenas contracções começam a surgir mesmo sem rega, e soluço até cair de joelhos. A gravidade parece impertinente quando dá as mãos com a mágoa e nos obriga a cair.
 Porque não paraste enquanto era tempo?
 Recolho num casulo que se afunda em areias movediças.
 Lentamente recuso a claustrofobia de ser a que estou submetida e apareço deslumbrante, como se tudo não passasse de um pesadelo. Talvez seja…tenho tantos. Na minha inconstância pode ser que vença…quem sabe?

E venço, mas por caminhos não desbravados...


 Sento-me, recosto-me…deixo cair a cabeça para trás num penar seco e natural. Olho pela janela que reflecte um dia de uma cor suja, estranha…pouco agradável de tão abafado. A ventoinha ligada de pouco serve…vaporiza um ar fresco de vez em quando e some-se para o lado como se de um amuo se tratasse.
 Tenho por companhia um soneto que contrasta com o nome alegre…é perfeito para a cor de lá fora. Relembra tempos passados em ventanias e sobressaltos, que apenas passam por mim quando se esquece o amuo e ela se aproxima cantando o vento.

(Planam notas picadas penduradas por fio de coco directamente das estrelas).


 Derradeiramente vem o fim do dia que adivinho ao olhar para o relógio e não pela cor do sol que não existe. Para mim é de noite…é sempre de noite. É de noite porque prefiro a noite, é de noite porque é quando te encontro e me murmuras com o olhar, é de noite porque me perdi nela para sempre…é de noite porque ontem não me deixaste adormecer e ainda não acordei. Porque estou tão alegre quanto este soneto que contrasta com o nome de alegre.
 Pego nas pequenas imagens que o tempo me deixou guardar e reconstruo a sensação…as palavras…o riso…o toque…o beijo que me deste com o olhar.
 Aumento o som da música de fundo que me acompanha no resgate de vida perdido no nó da garganta…apertado ao sabor do dançar dos ponteiros do relógio à medida que as horas avançam e continuo sozinha.
 Aproxima-se uma criança, inocente e carregada de vontade de estar comigo. Conta-me histórias que vão ficar perdidas no esquecimento da sua doce memória, e preocupações…afinal o dia está mesmo esquisito e não há maneira de compreender a crueldade do Homem…pobre criança…também eu não entendo. Juntas-te a mim neste caminho por agora, mas em breve esqueces e já queres brincar como te prometi. Vês que também eu estou esquisita a par com o dia e mais uma vez não entendes…
 Dás-me a mão e puxas-me para a vida…acho que vou aceitar este convite inocente para respirar e esquecer-me do quanto hoje tudo está estranho e feio.

 


 


 



(Imagem de Joanna Kinowska)







publicado por Rute às 21:23
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33 comentários:
De blackangel a 27 de Outubro de 2005 às 12:53
belíssimo texto.
pay me a visit.
beijos


De alfa69 a 20 de Setembro de 2005 às 12:41
A mão invisivel do destino, que teima em puxar-nos para um caminho que não sabemos qual é mas que seguimos de olhos fechados.


De mulherde30 a 16 de Setembro de 2005 às 22:53
e há mãos assim...aquelas que transformam o que é feio e triste em nós, quando nos puxam para a vida...


De ferrus a 15 de Setembro de 2005 às 21:13
Estive de férias e com saudades imensas de me entregar aos blogs. São doces para a minha visão e bálsamos para a alma. Tinha-te saudades, apesar da tristeza das palavras. A Carla disse uma verdade: se cantas assim a tristeza, então que a alegria te inunda para deleite dos felizardos que te irão ler. Beijos grande, escritora!!!


De manefta a 8 de Setembro de 2005 às 16:40
Obrigada pela tua visita. De facto quando comentei , referia-me aos outros textos que já tinha lido, mas ainda não tinha comentado ( sorry) á blogs assim, vais com a mensagem, interiorizas e só depois tens vontade de pensar noutra coisa, como por exemplo, um comentário. Mas este texto, onde comentei, não tinha lido, quando comecei, acabou-se me o tempo...
E novamente digo, expressas e verbalizas uma parte de mim, leio-te e sinto precisamente o que essa parte sentiria se na mesma situação. ( confuso ? )
E a verdade seja dita, uma criança, ou um filho tem o poder de nos puxar para a vida, não no s deixar desistir. Olha agora lembrei-me de um texto que tenho algures sobre isso mesmo, além de um filho tenho um enteado, e tanto um como outro têm esse dom. Á 6 anos atrás, apercebi-me disso, não me preocupava com a maioria das pessoas, mas desiludir ou assustar uma criança ( o meu enteado , o Renato ) faz-nos cair ainda mais fundo, porque arrastamos alguém a quem ainda não chegou o seu tempo de sentir as coisas assim.

( porra ganda texto loll )

beijinhos, continua a aparecer


De rosa, a prpura guerreira a 6 de Setembro de 2005 às 12:35
Às vezes o erro está em esperarmos que o outro páre. Paramos nós, se for preciso.


De Tiago & Rita a 4 de Setembro de 2005 às 01:41
Olá!!
Passo para deixar um beijinho e dizer que voltei de ferias. A Rita ainda continua de ferias no outro lado do Oceano, mas eu infelizmente voltei à rotina.
Gostavamos de continuar a ter a tua presença no nosso blog, tal como visitaremos o teu!
Beijinhos


De osfilhos a 3 de Setembro de 2005 às 23:43
Fenomenal a forma como transmites o que sentes, espero que esta criança te puxe para a felicidade


De Miss Lust a 3 de Setembro de 2005 às 22:26
Bem... hoje vim atravez do blog da Manefta e não pude deixar de ler o teu comentario e também eu pelos vistos fiz confusão!! Não publicas a algum tempo, já estive no tal outro blog atravez dos meus comentarios!! por isso te vim aqui pedir o endereço! Bem mas prontos agora percebi heheh Olha e a menina por onde para que não nos dilicia com este textos magnificos. Espero que estejas bem, beijoca grande


De luis a 31 de Agosto de 2005 às 21:27
todas as nossas imagens somos nós multiplicados.


lindo texto e blogs teus.



beijo


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