As palavras fogem! Olha como correm rápido! Mas eu não me importo. Sorrio a vê-las dar os primeiros passos, ágeis, velozes, ansiosos, em busca da liberdade.
Por vezes, há uma que cai, mas rapidamente se levanta, e parece que o amigo vento a ajuda a correr ainda mais depressa, desenfreadamente.
Umas saltitam, outras parece que voam, umas mais lentas que outras, mais pesadas ou mais magras, mas todas brincam e sente-se no ar algo diferente. Talvez a revolta se anuncie. Será?
Pouco importa neste momento se já esfolaram os joelhos, se foram pisadas ou empurradas. O que interessa é correr.
Ouvem-se risos e gargalhadas, vozes, gritos, não há um segundo de silêncio. Todas juntas criam uma melodia deliciosa, e aconchego-me na cadeira para as ouvir melhor. Para as ouvir melhor ainda, fecho os olhos.
Sinto-me leve, sinto-me uma delas. (Que palavra serei eu?). Posso correr mais do que todas elas, mas não o faço, deixo-me ir na corrente…gosto do toque delas, do seu significado. Mas a verdade é que estou na cadeira, aconchegada.
Parece que fui tocada por uma palavra…não sei se é o nome ou o significado e não me interessa. Vem…deixa-me sentar aconchegada nesta cadeira, ao teu colo. Diz-me que palavra sou eu agora…toca-me com as palavras inesperadas que gosto tanto…mas não só…acompanha-as com o toque. Eu não sou só feita de palavras. Também tenho corpo.
A alucinação continua. E tu viajas comigo. Sempre.
Choro de felicidade por não a saber.
Ouço as músicas que recriam as tuas palavras no meu pensamento…ai como sabem bem. Tenho-te aqui, nelas. As loucuras, o pouco usual que somos, as banalidades que foram precisas, tudo, tenho tudo aqui!
Não…não falo de amor. Falo de ti. E de mim. Dois corpos que se uniram com palavras, graças à casualidade. Avistaste-me…observei-te…clic.
As palavras continuam a correr. Nunca hão-de parar! As primeiras já vão longe, e o sagrado nascimento ocorre a cada momento que o "ring" se faz ouvir.
E eu sorrio. E momentos mais doces não podia ter, nunca.
(Imagem de José Marafona www.josemarafona.com)