Acabaram-se as obrigações por uns tempos. Vou poder assim descansar da rotina fatigante e tomar por completo o que mais amo. Até causar dor no pulso. Até me pedirem para me calar.
Também voltam as dúvidas
é necessário clarear as situações
é necessária uma intoxicação de pensamentos típica da solidão que se faz sentir. Preciso embebedar-me da situação. Pensar claramente e atrever-me. Arriscar-me e arriscar-te.
Tenho uma sede louca de ser invadida. Não. Não pelos fantasmas do passado
seres que se vestiam de sedução e me deixavam flutuante em pensamentos e libido não concretizada. Esses abandonei-os e não lhes tenho saudade
enjoaram-me, fazem parte do passado.
Tenho novos fantasmas. É pena serem fantasmas. Vou atingindo a passos pequenos um abismo, que vai acabar por cair para algum dos lados
não entendo porque não usamos todos a clareza de palavras
era tudo mais simples
Fico assim enterrada até aos joelhos de dúvidas, pensamentos que falam em tom de ponderações, receios que ora se aproximam ora se afastam, em compasso contigo.
Não me apetece mais. Estou cansada.
Ligo-a.
Autómato de desejos escondidos. Olho-me. Obrigo-me a ouvir o silêncio que se faz sentir não o entendendo.
Dispara de dois em dois segundos mas não me movo um milímetro sequer. Quero fotografar bem isto que é nada. Vincar os momentos que fazem parte de mim, aqui, sozinha, ansiosa de ti.
Sinto náuseas.
Contraio-me e impeço-me de.
Levanto o olhar e espreito à minha volta
a imobilidade dos objectos sempre me cativou.
Corre uma brisa gelada, não própria da época, e arrepio-me um pouco.
Apetece-me descrever exaustivamente tudo
Estico o braço
pego no cigarro
faz-se luz e inspiro o mais profundamente que consigo. A sensualidade do fumo à minha volta desperta a libido e sinto asco.
Estou nervosa, sinto as palpitações a mil. Detesto. Não sei qual é razão.
A solidão demorada faz-me disto. Só comigo não preciso de fingir, e a situação repete-se.
A máquina continua a disparar
Grava a fragilidade, a força, a energia, e todas as sensações contraditórias que passam por mim agora
a minha ambiguidade é notável, não havendo nada que eu possa fazer para a evitar.
Caminho descalça por aí
não sinto tristeza mas sim revolta. O conflito dar-se-á brevemente e colocarei tudo o no sítio certo. É insuportável a miséria dos meus pés descalços neste trilho.
Os lábios já sangram
mordo-os compulsivamente quando estou ansiosa. O sabor a sangue deve ter qualquer efeito mas não estou certa de qual é. Apetece-me parar e não consigo. É viciante.
Volto a abrir os olhos
decido parar a máquina e vestir-me.
Vai dar-se de novo. Sinto-o e tenho medo. Vou encolher-me e imaginar que não existo.
(Imagem de Konrad Gos)
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